E sempre SEXO no TUDO é?

ilustração e poema de Eugênia Siebra


novela voyeur
criança, velho tarado, mal-amados
chupando masturbado copiado
comprando consumido consumado
a sublinha TV.

fila bunda gorda (ou magra)
peito pau panturrilha
enfia no supermercado
foder o da frente (ou detrás)
ave abatida frango assado.

Sempre de Tudo no SEXO
Apelo modelito aviso
Vitrine sensual desfila
Prazer de farmácia caro
Mas cura mulas lambuzas

SEXO mercado de um TUDO.
Então Chegou o Dia

Isa Lorena

Publicado nos "Contos Sujinhos, Poeminhas Sujos", PINDAÍBA3.


Fazia tanto tempo que eu já queria experimentá-la, abraçar diferente, mais apertado, pegar ela de surpresa quando estivéssemos em minha casa, batendo papo na cozinha, ela em pé só de calcinha e camiseta lavando os pratos na pia dos fundos, pegar ela de surpresa, colar seu corpo no meu, deixá-la ouriçada com beijinhos  de leve na nuca, mordiscadelas nas orelhas e minhas mãos percorrendo seu corpo aveludado, os braços longos, espinha reta... Meus dedos sentindo arrepios infindáveis, pequenos gemidos profundos e úmidos, seu cheiro em minhas mãos, seu pinguelinho latejando, meu desejo embriagado, sua bunda em mim colada e eu roçando nela e tudo fluido, lâmpada acesa, campo minado, respira, respira, respira.... Alucina-ação. Fazia tempo que eu queria devorá-la, chupá-la inteira, arrancando versos de sua buceta, poemas inteiros. Fazia tempo que eu desejava perder-me em seu cheiro de fêmea excitada, roubando faíscas, invadindo suas bocas com línguas e dentes, seus olhos nos meus, paradas cardíacas, uma só pulsação. Então chegou o dia, na noite madrugada, sem raios, só lampejos, floresta escancarada, seu beijo, meus indícios, e seu gosto em minha boca na manhã que se inicia após o ato consumado.

cartaz Festival Cidadão Fechou
pro Rock. 1998



Aqui Jaz um Cidadão
ou Ode ä Instigação na Cidade da Luz

André Alcman 




“Abram as portas das suas casas
Deixem os ladrões entrarem
Eles vão tentar levar tudo que puderem”

(Trecho de “O Nada” da banda Cidadão Instigado)


Quando meu grande amigo André Dias me convidou para escrever estas páginas, coincidiu com minha iniciativa de findar meu antigo empreendimento, o Espaço Cultural Cidadão do Mundo, vulgo “Cidadão”, que tanto marcou o bairro do Benfica e a cena alternativa da música de Fortaleza nos tumultuados anos 90. “Que irônica sincronicidade junguiana!”, pensei comigo mesmo antes de aceitar o convite. Afinal, encerrar o Cidadão seria acertar contas com uma etapa de minha vida que eu inconscientemente parecia não querer superar e o convite se apresentava como uma bem-vinda trama cósmica para a realização de tal demanda. Assim, eu deixaria de agir como um ex-padre que não se esquece de sua antiga paróquia.

Tudo se desenrolava para que eu escrevesse um necrológio. Entretanto, um dos criadores desta revista me pediu mais: “André, fala também da cena musical de Fortaleza, do Cidadão Instigado etc.”. Sendo assim, não é apenas sobre o finado espaço cultural que preencherei estas linhas, mas sobre a própria cena musical da capital vivida na época do Cidadão, das infindadas querelas em torno do vazio cultural da cidade, e do desde então maior expoente da música cearense: a banda Cidadão Instigado.

ESPAÇO CULTURAL A & A LTDA ME. Esta é a razão social do empreendimento, que neste momento deixa de existir de direito, já que de fato ele não existe desde novembro de 1999. Depois de dois anos de funcionamento (pois sua inauguração ocorreu em outubro de 1997) só agora, após treze anos de seu fechamento, é que a empresa é finalizada. Isto é, por mais de uma década o fantasma do Cidadão do Mundo vem me assombrando.

Sem dúvida, a minha experiência à frente do Espaço Cultural Cidadão do Mundo trouxe-me alguma bagagem para falar da cena musical cearense. Localizado na Avenida da Universidade, 2322, no Benfica, durante os dois anos de seu fun- cionamento, por lá passou uma média de duas atrações
por semana. Vários estilos fizeram som no Cidadão: Heavy, Punk, Blues, MPB, Techno, tutti frutti quanti. Realmente, a diversidade de atrações foi a tônica das noites no Cidadão. Variedade não apenas em termos musicais. Foram apresentadas peças de teatro, curtas metragens, jogamos capoeira, etc. Todavia, infelizmente, todo o material (pôsteres, fol- ders, releases, etc.) foi devorado pelas traças do meu antigo apartamento. Relíquia que não existe mais, persistindo, apenas, alguns papéis que me renderam, desta última vez que os acessei para escrever este texto, uma virose devido à alta concentração de ácaro. Só me restam a memória e estes poucos papéis mofados, onde ainda encontramos o nosso cardápio. Acreditem, enfim... De todo modo, vivenciando in loucos toda esta diversidade, pude refletir sobre a cena musical de Fortaleza e sobre a própria produção cultural da capital do nosso estado.

É inegável que nas conversas de bar - inclusive no nosso - e fora deles, o assunto do vazio cultural de Fortaleza vinha à tona. Principalmente, quando se encontram literatos, músicos etc., os chamados “homens de cultura”. O embaraço nunca é disfarçado quando nos comparávamos a outras capitais do Nordeste, especialmente a Recife. É dito que nós não temos uma retaguarda folclórica, po- pular, intelectual, artística... Quando ocorre a comparação com a região do Cariri, especialmente Crato e Juazeiro, Fortaleza também fica em desvantagem. Isto traz desconforto, sem dúvida. Já ouvia muitas lamentações e nos anos 90 a tônica era essa - inclusive, entre a moçada, por causa do Manguebeat. Dizia-se na época: “puxa Fortaleza não tem movimento, não tem nada”. “Aqui é uma pasmaceira, só tem forró!” - hoje atualizado como forró eletrônico. Era verdade? É verdade? O que valia para aquela época, ainda vale para hoje? Sim vale. Se a verdade é uma crença, eis os crentes da angústia. Em outras palavras, em Fortaleza nos sentimos meio que suspensos
no ar, especialmente, hoje com o fetiche oficial do turismo em tempos de mega aquário. Será que nossa capital já virou uma caótica Miami dos trópicos?! Principalmente hoje, por vivenciarmos o oba oba turístico junto a um caos citadino visto em indicadores que apontam um inchaço urbano com seus quase dois milhões e meio de habitantes, com a maior densidade demográfica do país e o 19° IDH entre as capitais brasileiras.

Mas o que faz Fortaleza assim diferente daquilo que os produtores culturais pensam a respeito de como ela deveria ser? Vamos lá: quais as motivações históricas e quiçá sociológicas para a “pasmaceira cultural” da capital do Siará Grande? Alguns diriam, partindo de uma análise da infra-estrutura econômica, que um forte motivador seria o desenvolvimento tardio da capital do estado, impulsionado pelo surto do algodão no contexto da Guerra de Secessão nos outrora Estados Desunidos do Norte. Outros ponderariam que pela capital passaram e/ou atuaram movimentos literários, populares e folclóricos, vistos na Padaria Espiritual, no Pessoal do Ceará, na Massafeira, no Maracatu e etc. Não sei. Só sei que aqui só posso falar a partir da minha bendita vida finita, em parte vivida, lá no Cidadão. Deixem os “homens de cultura” falar, ou melhor, aqui permitam a um ex-dono de bar - que também não deixa de ser um dos “home da cultura” - se expressar através de suas impressões sobre a famigerada cena musical de Fortaleza e de outras bilongas mais abrangentes.

Em seu tempo, o Cidadão do Mundo foi um microcosmo de todas estas angústias. Mas quando abrimos o estabelecimento, eu não pensava nestas questões. Apenas queria sair de um trabalho enfadonho. Depois de morar dois anos em São Luis e passar um ano no Ceará, não aguentava mais o que fazia. Dane-se a promoção de vendas e o comércio! Como uma catarse, arrisquei tudo e apliquei toda minha rescisão no empreendimento. Chamei meu irmão, Alexandre (o conhecido Vespa), para sócio e mandamos ver. Na noite da inauguração, com um Show antológico da Banda Matutaia (na sua fase Rhythm and Blues, anos luz antes do Sonolento-Pop-Mucuripe-Club), todo nosso capital de giro estava gelando no freezer. Durante seis meses achávamos que estávamos tendo lucro, na verdade estávamos pagando as contas em dia. Depois deste período de “fartura”, sabiamente meu irmão saiu do negócio, veio um ano de endividamento intensivo e, nos últimos seis meses, só não queria mais dever a ninguém. Resultado da má-administração: voltei para casa de meus pais com um sorriso amarelo, alguns CDs (já que vendi tudo por lá, aparelhagem de som, vinis...) e algumas roupas às costas (na sua maioria cuecas desbotadas).

Mas não me lastimo. O convívio com a ga- lera foi massa. Muita gente morou no Cidadão ou pelo menos dormiu por lá uma noite. Éramos bipolares, conforme a sugestão química. Um amigo meu chegou a dizer que nunca vira em um bar um desconhecido bêbado receber almofadas para dormir. Aconteceu, mas também ocorreu de tirarmos, no braço, a galera que aprontava. Muita gente legal morou por lá, como o André Dias e uma rapaziada que eu por aí vejo ou nunca mais vi: Chico da Gaita, Allyson da Parafernália, André agora dos piercings, Saca contrabaixista, Kátia Arruda do teatro, Seu Freitas (nosso antivigia), o Dante (o cara zen do som e de outras produções) e tantos outros que pernoitaram. Também não poderia esquecer-me da galera do front do bar: da Cinara, do Pinguim, do Over Pointing, da Ana e do nosso filho Roan, além dos inúmeros garçons e seguranças de que não lembro mais dos nomes.


banda Matutaia

Não, não éramos uma família. Longe disso. Se fôssemos seria impossível morarmos juntos. Éramos apenas amigos e amigas que dormiam e sonhávamos juntos (não necessariamente nesta ordem). Às vezes nos curtíamos, outras vezes nos odiávamos, em meio a altas taxas de glicose, aos intermináveis nevoeiros e à maldita brilhantina. Isto foi o Cidadão nas internas para além das divisas mal-administradas. Em termos pessoais, passei da idade cabalística dos 27 anos na “boa”, cheguei ao palácio de meus excessos e lá os deixei. Depois acabei atravessando de pés descalços, à la Paul McCartney circa Abbey Road, para o outro lado da Avenida da Universidade...

Voltando às angústias. A intenção do bar era reunir o maior número de estilos musicais que estivessem fora do mainstream da música cearense. Diariamente, tínhamos um cardápio musical de acordo com estilos distintos. Tinha o dia da MPB, do Rock e derivados, do Reggae, do Jazz, da música eletrônica, e por aí vai. O que observávamos: o cara que ia num dia não vinha no outro e ainda tirava um sarro com o gênero do outro dia. A vivência era tribal. Tornamo-nos um ponto de encontro de tribos que se reuniam naquele dia, mas que não criavam uma identificação com o lugar. Em outras palavras, nós éramos o não-lugar da cena musical. Um lugar quase fantasmagórico... Quem nos salvava
em termos de assiduidade era um pequeno público mais ou menos cativo. O “pessoal do Benfica”, em especial a galera do grupo político Contracorrente, e outros frequentadores: André Vasconcelos, Augusto, Felipe Franklin (então esbelto), “o guru” Emiliano, os vários Paulinhos, Tyrone, Chicão, Kennedy, Dídimo, Salvador, Wellington das pe- daleiras, os Robertos, os Júniors, Gerardo, o Oscar e sua inseparável flauta, Nuno, Uirá, os Cláudios, Carlos Jorge, Manoel Carlos e tantos outros Carlos (incluindo o emílio), Mário Brother, Erivanzinho, o indesejável Curu, Ricardo Doido (agora tranquilo), o outro Kennedy que, infelizmente, já partiu... Não poderia me esquecer das “meninas do Benfica” que às vezes nos faziam companhia até de manhã - Juliana Carvalho, Klycia, Jô, Isamira, as Socorros, Meiry, as agora recifenses Claudinha e Bel, Virgínia, Fran, Celina, Cassiana, as Kátias e tantas outras, do pessoal dos cursos de humanidades da UFC, da UECE, da Escola Técnica (Saulo, Reginaldo, Felipe Sampaio e Sérgio) e na “velha guarda” do bairro (Kassundé, Índio, Vladísia, Henrique da rádio etc.). E tantos outros que de tanto querer lembrar acabo esquecendo, naqueles tempos irreais, em plena ressaca real, durante a transição para o reinado de F(T)HC II.

Sem exageros, éramos de vez em quando até marginalizados. Já ouvi muita gente, quando íamos distribuir folders dos eventos, nas mesas de bar de Fortaleza, dizer: “você vai para aquele lugar de ***!” e completavam “é muito melhor o Domínio Público”. Naquela época, eu me sentia irmanado apenas a um lugar: o Peixe Frito do Gato, do Kasane e do Marcelo. Éramos como mônadas autônomas frente aos demais lugares da noite fortalezense. Neste tempo, uma “associação da burocracia messiânica do rock nativo” deu as caras, realizando altas magias negras para nos azarar. Na verdade, o bruxo era apenas o seu eterno-honorário-presidente, um tal de “amaldiçoado”.

Fortaleza tinha esta sina. Eu me lembro de poucos lugares interessantes nos anos dos 1980, tipo os Duques e Barões. Depois do Cidadão e do Peixe Frito não, a cena melhorou muito. Já perambulei
em vários lugares, nos anos dos 2000, que ti- nham propostas interessantes, como, por exemplo, o Teatro da Boca Rica (onde vi os melhores shows do Cidadão Instigado) e mais recentemente, O Agulha, de outro André super-gente-fina, além das inusitadas festas organizadas cidade adentro, como as da descolada Thaís & Companhia na Praça dos Leões. E agora muito recentemente o Espaço Casa.

O Cidadão era lugar pequeno, não cabiam mais de trezentas pessoas, com seus 12 metros de frente e 20 de fundo. Tinha uma exuberante árvore, com uma cabeleira rasta – hoje inexistente, devido ao cruel pragmatismo petista (atuais locatários) - que eu dizia, com uma descarada licença poética, que era centenária. As pessoas acreditavam. Tínhamos um palco pequeno com duas sinucas ao lado (alugadas por outro lendário frequentador da casa, El diablo Eufrásio e seu sócio Solano). Depois implodimos tal área e fizemos um palco de aproximadamente um metro e meio. O palco foi reinaugurado com um show de uns posers-covers que homenagearam o Led Zeppelin.

Era fácil tocar no Cidadão do Mundo. Era só levar uma fita cassete (que nunca ouvíamos) e um release que folheávamos rapidamente. Pagava-se o custo do evento com a bilheteria e ficávamos com uma pequena porcentagem desta. Noutros casos pagávamos o cachê dos músicos. Sem dúvida, era uma operação de risco, que em muitos momentos tivemos que arcar. Como numa sacanagem histórica de um sujeito que tem nome do elemento mínimo da chuva acrescido ao nome de nossa capital. No dia do show, notei que ele daria outro, de graça, num destes espaços culturais de banco. Não preciso nem dizer o fiasco que foi... Só não tocou lá no Cidadão do Mundo quem não quis e umas poucas telhas marombados de camisas baby look, que eu não sabia de onde eram (na ocasião tripliquei o valor dos custos para desmotivá-los a tocar, o que realmente ocorreu).

A polícia sempre nos visitava naqueles bons tempos que antecederam aos milicianos oficiais dos deixe-de-ronda. Pensei até em fazer umas parcerias com as associações de policiais devido à constante assiduidade. Tínhamos que ser criativos para não importunar a clientela com as revistas que poderiam trazer problemas a todos. Era comum algum policial, seja militar ou civil, perguntar: “o estabelecimento tem alguma coisa a ver com a Universidade?” “Sim, temos parcerias”. Eu respondia, sem especificar de qual tipo, desnecessária, já que nunca me perguntaram de qual espécie seria tal parceria. A maior parte das visitas policiais era por causa do volume do som. Em especial, dois vizinhos se incomodavam com o volume sonoro: um maranhense aposentado e o síndico do prédio de trás. Eles tinham razão, por isso eu fazia de tudo para que a música ao vivo não passasse da meia-noite, tal qual o limite da Cinderela. Fomos importunados pela polícia inúmeras vezes, mas uma marcou. Houve uma apresentação, na mesma noite, de três bandas de Black Metal. Infelizmente não tenho mais registro das mesmas. O hilário é que neste dia, fomos visitados pelas polícias militar e civil pelo menos cinco vezes. Como bons cristãos que eram, os policiais se assustavam com a música e a performance das bandas e partiam em retirada depois de avistarem aquele cenário infernal.

No Cidadão, observei algo sobre a cena musical cearense, independente de estilo: a grande maioria das bandas eram caricaturas de exemplares pernambucanos, sudestinos, grugeanos, etc. A carcaça noise dos pobres! Vampiro brasileiro! (era inevitável a cuspida no chão). Mas nos divertíamos, afinal, algumas covers pareciam playback. Vivíamos a ressaca de ilustres defuntos. Kurt Cobain morrera em 1994, Renato Russo havia morrido em outubro de 1996 e Chico Science em fevereiro de 1997. Estas personalidades eram onipresentes no Cidadão. Não conto os inúmeros tributos realizados para estes ícones. De vez enquanto, rolava um retrô para o Raul Seixas, que tinha morrido em 1989 (como os da Banda Salt, que inclusive foi motivo de uma frenética cena de bang bang fora do bar) ou outros mais raros como o que rolou para The Doors (a banda eu não lembro). A partir daí pude sentir a decadência do rock, afinal, quando se homenageia tanto os ídolos do passado, mesmo os mais recentes, é porque o presente deixou de nos merecer ou vice-versa. Tão sumário assim?!

Por outro lado, tivemos momentos realmente memoráveis e outros nem tanto. Vamos lá, sem dividirmos o joio do trigo: Babi Fonteles, Gigi Castro, Ana Célia, Uttama, Bob, Tribe of Lion, Mofo (primeiro banda do batera Felipe Maia, atual Scandurra, memorável amigo das conversas sonoras da casa), Biduin, Gang da Cidade, Renegados (dos imortais irmãos do Rock and Roll, Ricardo e Marcelo), Kasane & Subblues, Kizumba, Fatal 7, os eventos do movimento anarcopunk (com a presença de bandas como Ruptura, do Pastel e do João Paulo), Alma Blues (outra banda do “ex-mofados” Felipe Maia e do Jorge Mocegão) dos Fabulosos Mave- ricks (dos citados mofados e liderado pelo Coçador del Chaco, Jabá, que nos rendeu, noutro momento, um antológico “brancão”) Veia Cava (dos grandes Animal e Alex e do ilustríssimo Giri), Dagored (do guitarrista-papo-tranquilo Robério e com o Tony Opus nas baquetas), Cobaia (na fase tímida de Jo- nathan), as meninas do Dress, Zôia (dos endiabrados Roqueney e Erasmo), Mr. Spaceman (do guitarrista Régis Damasceno) e Harry (projeto do quase lenda do tecnopop brasileiro, Hassen). Nas festas de Reggae e de Rap, respectivamente, daquela galera da rádio e da moçada do Cultura de Rua. Nas Raves organizadas pelo DJ Fil, onde a DJ Priscila e o Dustan Gallas fizeram altos sons. Nos loucos eventos multimídia da galera da Parafernália (Ayla Andrade, Mardônio França et al) e no lançamento do cordel “Homem Caranguejo”, de José Erivan em homenagem ao Chico Science, com exposição de fotos do Ulisses. Também se destacaram as apresentações teatrais organizadas por Kátia Arruda: da Companhia Mais Caras, dos estudantes do Teatro Universitário, do teatro de bonecos de Jonhy Sandro e das meninas da antiga Escola Técnica (dirigidas pelo Paulo Ess e cujas meninas Juliana e Marisol deixaram a ala masculina dos freqüentadores e nativos do bar a babar). E não podemos nos esquecer dos números circenses com o Galdêncio, nas mostras de vídeo organizadas pela galera da Casa Amarela (André Dias, Ricardo Juliani e o Telmo Carvalho), da capoeira ministrada pelo Querido e pelo João Batista, nas inúmeras oficinas e sei lá o quanto mais.... Foi mal quem ficou de fora, aqui está o que me lembro e o que está arquivado precariamente.


Entretanto, o Cidadão Instigado se diferenciou. Na primeira vez que Os Instigados tocaram no Cidadão a diferença já parecia na passagem de som. O guitarra-voz Fernando Catatau, com aquele seu timbre de voz inconfundível, chegou para mim com a sua sinceridade ímpar: “André, não me leve a mal, mas com o som de teu bar não dá”. Tivemos que alugar um som só para o show dos caras. Fiquei possesso, mas o admirei, especimente pela qualidade do show. Nunca nas passa-gens de som vi alguém com o ouvido tão apurado, enchendo o saco dos demais membros da banda. Ah sim, o som do nosso Cidadão era uma merda mesmo e o show dos caras foi memorável, ajudado pelas caixas de som da dupla brasa-mora Erasmo e Roqueney. A casa lotou que ficou neguinho com o pescoço doído devido ao efeito cuco na portinha de entrada do bar.

Os shows da Banda são um caso à parte. Muita gente se surpreende com a intensidade e, às vezes, com a angústia de parte do som dos caras. Quando Catatau fecha os olhos e os abre meio que endiabrado, profundos como os de um Antônio Conselheiro, acompanhado por seus gritos expectorantes, sai de perto... Já vi muita gente assustada. Dos shows que rolaram no Cidadão, lembro-me com carinho de um com o DJ Dolores. Todavia, a rapeise alternativa de Fortaleza preferiu uma daquelas festas no future da praia do Futuro com som mecânico. Resultado, mais um prejuízo que, desta vez, foi amenizado pela presteza de Catatau. Jamais esquecerei...

Sem dúvida, o Cidadão Instigado sempre brincou com esta história de influência e de identidade – longe evidentemente das frescuras teóricas acadêmicas. De maneira involuntária, através da própria música, porque na maioria das vezes Fernando Catatau ficava um pouco alterado com comparações ou rotulações (hoje, na maturidade, ele apenas sorri). Era comum na época, em virtude da ressaca da morte do Chico Science, comparar o som dos Instigados ao da banda de Recife. Na verdade, era uma comparação forçada e simplista que partia do fato que a banda de Fortaleza usava a zabumba (tocada pelo DJ Fil), assim como faziam os homens-caranguejos. Entretanto, o maracatu que os Instigados bebiam era diferente do pernambucano (seja o rural ou o urbano). Catatau e sua turma mergulharam no maracatu fortalezense mesmo - com aquela marcação bem mais sincopada e lenta - como outros antes fizeram, a exemplo de Ednardo (entretanto, tal refe- rência “regio nalista”, nos dois últimos álbuns, quase não se percebe). Outra comparação, menos comum, mas costumeira entre os músicos, era da maneira de tocar do Fernando, dita como próxima da do guitarrista Carlos Santana. Certa vez, antes de um dos shows da banda lá no Cidadão, o jornalista Henrique Nunes perguntou-me sobre as influências dos Instigados. Falei no embalo dos pernambucanos dos Sciences e do mexicano Santana.



cartaz anunciando show com a banda O MOFO. 1997


Catatau, com razão, não gostou e me disse: “não tem nada a ver cara, somos experimentais!”. “Que presunção!”. Pensei comigo mesmo, afinal ser experimental é uma postura estética e não a caracte- rização de um tipo de música. Experimental frente a que gêneros (s) musical (is), cara pálida? Entretanto, vendo tudo retrospectivamente, devo dizer que Catatau estava certo. O som dos Instigados é sim experimental, não no sentido “cabeção sem coração”, mas sim de sempre procurar por algo novo dentro do formato canção, que se tornou imperativo dentro da música brasileira desde a Tropicália. Afinal, o próprio compositor hoje já baixou a bola com esta estória de experimentação quando diz que seu som deriva do simples fato dele ser um típico roqueiro cearense, do final dos anos 70 e dos anos 80, que ao mesmo tempo em que ouvia um monte de rock, não dispensava as festinhas com os forrós e as músicas lentas (puxa, também sou deste tempo estranho...). Por tudo isso, ao ouvirmos sua música, é notório o caminhão de referências que vão se misturando ou sendo esquecidas ao longo de sua trajetória, que vem sendo desenhada desde um EP nos anos 90, passando pelo Ciclo da Decadência (2002), pelo Cidadão Instigado e o Método Túfo de Experiências (2005) e o derradeiro UHUUU! (2009). Quais referências: maracatu cearense, Santana, Hermeto Pascoal, Tom Zé, Odair José, King Crimson (especialmente nos riffs e nos climas esquizóides), Hendrix, Miles, Sérgio Ricardo, Floyd e UHUUU-escambau! Sem dúvida ouvimos outras referências. Digo referências porque acredito que Catatau e Companhia não teriam problema algum em parafrasear Villa-Lobos quando este era comparado a Debussy ou a Stravinsky: “toda vez que sinto a influência de alguém me sacudo todo e pulo fora”. O que ouvimos na música do Cidadão Instigado é uma verdadeira desleitura das influências tal qual Harold Bloom viu na poesia de um, por exemplo, Shakespeare em relação a Marlowe. Nesta perspectiva, a angústia da influência se personaliza em um estilo próprio, através da desconstrução das mais variadas referências.


A bagagem dos músicos também ajuda na hibridização das referências e na personalização da proposta musical da Banda. É quase impossível imaginarmos a guitarra de Catatau, nos Instigados, sem segurança das notas do baixo de Rian Batista. Outro que se destaca na história do Cidadão Instigado é Dustan Gallas, o senhor das sutilezas timbrísticas, sim senhor! Este trans-instrumentista tocava caixa e prato na Banda e agora está no teclado - lembro a primeira vez que o vi tocar, foi guitarra e acompanhando um violinista de jazz norte-americano que agora esqueci o nome. Régis Damasceno também é figura das antas, tocando os Beatles da vida e outras coisitas anglo-americanas mais contemporâneas - o cara foi sócio-fundador do Velouria, ícone da cena alternativa de Fortaleza. Damasceno tem um dos fraseados de guitarra mais discretos que já ouvi, perfeito junto à explosão de Catatau. O baterista Clayton Martin preenche em termos rítmicos a sonoridade da Banda como um Keith Moon, aumentando, sem dúvida nenhuma, a intensidade da banda. O outro cara, Kalil Alaia, faz muito bem os efeitos inusitados.

Outro fator que trouxe outras referências fora a transcendência-imanente-territorial-de-todo-cearense-nômade. Visto na morada da rapaziada, em São Paulo, desde o começo deste século (na verdade, o compositor de “O Tempo” já perambulava desde o começo dos anos noventa na antiga capital da capitania de São Vicente). No acompanhamento de Catatau frente às figuras como Otto, Vanessa da Matta, dentre outros, além da produção de Arnaldo Antunes e a que agora ele vem processando com o eterno Mutante Arnaldo Batista. A projeção nacional também fora ressaltada pela melhor apresentação dentre as Bandas que participaram de um programa global em homenagem ao Nelson Mota - muita gente pode ter estranhado, mas vi o primeiro show do Catatau numa banda que tocava Lulu Santos e outros oitentistas, no Ginásio do Colégio Nossa Senhora das Graças, acho que em 1986. Ah sim, não posso esquecer-me de destacar a presença dos caras no Rock In Rio deste ano junto com o Júpiter Maçã.

A voz de Catatau também é cheia de referências, passando pela estridência de um Tom Zé e pela fanhosidade de quem ouviu Fagner nos idos Orós. A respeito de Tom Zé, ele já confessou publicamente ao fechar um show do mesmo, no Domínio Público, que ele só teve a certeza de cantar após ouvi-lo. Mais cearense impossível, afinal a sua “fanhosidade” é única, inclusive no uso de termos bem locais: caboré, Zé doidim, cabeção... Certa vez eu lhe perguntei como ele lidava com o sotaque do Ceará no Sudeste. Ele nem piscou dizendo que até dava relevância. Só depois entendi o sentido estético-existencial de tal afirmação, afinal, poderia soar como provincianismo, como na época me pareceu. Que nada! Fale outras coisas do cara, menos isso. Acredito que Catatau segue, sem se preocupar, a observação de Gilberto Freyre ao dizer que nenhum brasileiro é, ao mesmo tempo, mais apegado à sua terra, mais brasileiro e mais cosmopolita do que o cearense.

Coincidência ou não, pouco antes do eterno fechamento destas linhas, encontrei o Catatau antes de um show de um projeto instrumental ironicamente intitulado “Fernando Catatau e o instrumental”, no SESC Pompéia, em Sampa, no início de junho. Falei rapidamente com ele. Foi uma supresa mútua. Afinal não nos víamos desde 2006, acho, em um show no Dragão do Mar. O cara continua com aquela humildade franciscana. Falei deste texto e tal, ele se mostrou interessado, mas me disse que não tinha registro nenhum de seus shows, nos anos 90, no Cidadão. Que pena! Mas o show foi muito massa! O cara entrou calado, falou pouco como sempre, mandou um caminhão de riffs, de fraseados e de solos - ora violentos, ora delicados - super inspirados, que deixou a plateia chapada - incluindo músicos como o Dado (Religião Urbana) Villa-Lobos. Ali estava a essência do Catatau, desconstruindo todas estas referências às quais me referi, com o acompanhamento de Kassin (Baixo), da lenda viva Lincoln Olivetti (Teclados), Samuca (bateria), e Clayton Martins (bongô e guitarra sintetizada).

Voltando ao nosso drama-enredo, infelizmente não venho acompanhando em detalhes a cena musical de Fortaleza co-pós-Instigados como deveria. Na verdade, as várias bandas e projetos que vêm surgindo, ressurgindo e findando-se (Quarto das Cinzas, Karine Alexandrino, Jonnata Doll, Plastique Noir, Mirella Hipster etc.) com certeza não são herdeiras dos Instigados. A Banda nunca esteve nem aí para puxar algum movimento ou manifesto. A única dica que as bandas de Fortaleza parecem seguir do Cidadão Instigado é esta: experimente e procure o teu som! Nesta busca, talvez, o não-encontro seja o melhor lugar para se estar.


ibanda Gangue da Cidade

Em suma, colegas, posso afirmar que ao ouvirmos a música do Cidadão Instigado podemos ver a situação cultural de Fortaleza de outra maneira. Ou seja, o vazio que nos apodera pode ser transmutado em prol da criação artística que não está presente nos manuais já estabelecidos. Por fim, o Cidadão do Mundo aqui se despede desejando vida longa aos cidadãos instigados da capital da terra da luz. Para esta instigação não perecer, deixemos valer à vacuidade de nossa cidade, ou como diz Catatau: “deixem os ladrões levarem tudo que puderem” e façamos um bem a nós mesmos, afinal:


“A Fortaleza em questão 
Capaz de deter o mal 
Diversa não é senão 
Aquela força moral Residente em nós, humanos 
Que nela também moramos: 
A virtude cardeal”

(Trecho do Poema Marco Infinito: Fortaleza –
IV. Livre do medo e das Armadilhas, do Poeta de Meia-Tigela)




poema de Maria Rosa para os "Contos Sujinhos, Poeminhas Sujos"


página 1 de HQ de Vitor Batista publicada na PINDAÏBA3

página 2 de HQ de Vitor Batista publicada na PINDAÍBA3

página 3 da HQ de Vitor Batista publicada na PINDAÏBA3

página 4 de HQ de Vitor Batista (publicada na PINDAÍBA3)

página 5 de HQ de Vitor Batista (essa hq foi pubilcada na PINDAÍBA 3

A PLAYBOY PARAGUAIA
Guilherme Linhares

Há muito tempo não comprava uma Playboy.  A única que passou por minhas mãos por conta de gasto monetário pessoal foi nos anos 80, a que trazia a paquita Luciana Vendramini, então com 17 anos. Seu pai teve que emancipá-la pra servir de inspiração pra punhetas. Não seria contraditório um pré-adolescente com fetiche por lolita? Isso é coisa de gente grande. Uma das mais vendidas da história, continha nas suas páginas a pouca atraente jogadora de basquete Hortência. O que é a fantasia do simulacro: torna qualquer nudez desejável. Assino a Piauí, compro com regularidade a Cult e coisas do tipo. Seria interessante esquecer esse cabecismo todo em setembro de 2010. No respectivo mês, a mais clássica revista de mulher pelada estampa em sua capa a Larissa Riquelme. O que ela tem de tão singular? A beldade paraguaia (infelizmente nunca vou poder comprovar se a mesma traz algo de demasiadamente falso em sua compleição física) começou a ficar em exposição durante a última Copa, ao ser flagrada torcendo pela seleção de seu país com um celular entre os seios siliconados. E o que tem isso demais? A imagem correu o mundo e um novo símbolo sexual foi criado. Sou uma vítima da mídia. Anos de estudo dedicados a sociologia não me tornaram imune às artimanhas da indústria cultural, principalmente quando elas atingem de forma incisiva a libido. O fato é que a moça traz um jeito espontâneo, adolescente, copiosamente sedutor, talvez capaz de muitas peraltices eróticas. O fetiche agora é mais justificável na fase adulta. Comprei então a Playboy e deixei para degustar em casa, com calma. Chegando ao lar, me livrei do plástico que envolvia a revista meticulosamente, como se tirasse a calcinha de alguém com quem fosse transar. Um dos motivos que me impulsionou a retirar doze reais da carteira pela Larissa foi ter ouvido falar que a mesma faria um ensaio ousado. Como tem um semblante que atiça as fantasias, a imaginei contemplando os leitores com um erotismo pouco comum pros padrões normativos da publicação. Os meios de comunicação dessa vez me vitimizaram de forma acachapante: a mulher que sugere uma puerilidade devassa é realmente linda (como já apontei, qualquer uma ficaria em ensaios fotográficos tão bem cuidados, ainda mais em tempos de era tecnocêntrica, onde tudo é manipulável), mas me senti engabelado. Nada de lábios vaginais arreganhados e preguinhas anais aparecendo, basicamente o que eu procurava. Dá até impressão que a outrora libertina, não passa de uma tímida. Paradoxo supremo: Larissa Riquelme, o tesão intranscedente. Será que comprei uma Playboy paraguaia?




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ilustração de George Alexandre para os "Contos Sujinhos, Poeminhas Sujos"
segunda proposta de capa para a primeira edição da nossa revistinha
2003. autoria andré dias


Minha primeira lambidinha


Então era assim, ele era meu primeiro namoradinho, gostoso que só ele. Eu toda deslumbrada por tá namorando o cara mais gatinho das paragens. Mas vivia numa nóia só,  com medo da azaração das fura-olho . Queria deixá-lo fissurado, sabe aquela coisa de ficar de pau duro só em pensar na pessoa? Queria deixá-lo assim por mim.
 Eu pensando nisso já toda molhadinha, aí, aí, ui,ui...Chegou seu aniversário, tenho um presentinho pra você , disse já toda carinhosa, me encostando nele, me encoxando no banco do jardim, ai escurinho gostoso. Ele todo teso, todo duro, olhou pra mim: O que é?
É so pra olhar...   Afastei-me dele, e fui levantando a sainha rodadinha, e la estava eu nuinha, cheirosinha, com uma penugem cobrindo minha entradinha,  já estava toda molinha de tesão.
Ai chega mais perto...só pra ver melhor...
O safado foi me puxando, eu toda zangada dizia não, mas queria ver no que ia dar, queria sentir o seu tesão. Ele foi me puxando, se ajoelhou a meus pés
Deixa só eu sentir o cheirinho, sussurou baixinho
Eu fui deixando, senti seu rosto na minha bucetinha, aí tormento, ai tremor, foi quando sua lingüinha passou pela entradinha. Eu já toda abertinha deixava, um pulsar, uma ondinhas indo e vindo, e eu deixando a lingüinha entrar. Ai se não  passa alguém pelo jardim, tinha sido ali mesmo. Para defesa de minha “honra” fomos interrompidos, mas a primeira lambidinha ninguém esquece.

Meu primeiro cheirinho

Ela era uma coisinha apetitosa, toda durinha, gostosa que só ela. Eu, com meus 16 anos ficava todo duro só de pensar naquele corpinho, ficava difícil até de encostar nela, tanto era o meu tesão.
E ela? Toda difícil, tormento dos tormentos com aqueles shortinhos, a dananinha me provocava.
 E eu lá me castigando no banheiro, pensando naquela bundinha maravilhosa.
 Um dia cheguei  a sua casa, e ela mais gostosa ainda usava uma sainha xadrex, curtinha, rodadinha, ai tesão. Ai tormento. Ai safadinha. Todo animada zanzava de um lado para outro, ah se tivesse sem calcinha.
Pra dançar o São João, dizia
Eu já estava num aperto só sentado no sofá, quando a minha namoradinha gostosa me chama para o jardim.
É hoje que me afogo nessa grutinha...ai Maria
Sem cerimômia já a sentei  no meu colo...
Ela toda dengosa, ai pára com isso João.
Ah malvada! quando lhe passei a mão por debaixo da saia estava nuinha. Não que nada, a safada tava era me provocando.
Fui bolinando insistente seu sexo e ela segurando minha mão,mas pelos suspiros sabia que tava adorando.
Toda meladinha, pressionei o dedo e aumentei os movimentos, enquanto lhe beijava a boca.
Tão comportadinha no meu colo, meu tormento, minha namoradinha gostosa.
Geme , geme que eu me satisfaço nos teus gemidos. Já tão molinha, nem se deu conta quando encostei meu pai na sua bundinha.
Já gemia e mexia toda ciente de que a vida a preparara pra ser uma putinha gostosa.
Ai jardim escurinho, e fizemos ali mesmo; meio em pé meio sentados, o pau deslizando naquele rio de gozo, foi enfrentando as barreiras naturais e chegou ao seu destino: o paraíso. Nunca mais sair dali. E não sai mesmo. Até hoje cheiro meus dedos procurando, com saudades , o cheirinho da primeira trepada.

Não conto não

O terceiro continho não conto não...
Só se for no pé do ouvido.
Vem cá...

Áuria Rafael
Um continho, dois continhos, três continhos
ilustração de Wellington Oliveira para os "Contos Sujinhos, Poeminhas Sujos"
EVA


Meu nome é Eva. Eva (sem sobrenome). Sou amiga de serpentes, encantadora de homens. 
É o que dizem, mas não é bem assim. Só conheci uma serpente, aliás, duas, uma que me fez comer o fruto, a outra entre as pernas de Adão. Adão. Esse é o nome do único homem que seduzi com meus encantos, minhas madeixas e minha periquita aberta onde pus a maçã e susurrei: “me come”. E Adão, com sua rija serpente, fez entrar maçã adentro. E ficamos nos esfregando, nos chupando e nos cheirando por horas. Descobrimos muitos orifícios. A serpente, a Outra, pérfida e traiçoeira, lambeu o cu de Adão. E ele estremeceu. Sentia calafrios, enquanto eu, por outro lado, lhe chupava a vara. Deus, voyer incorrigível, gemia baixinho no infinito supremo que eu mesma nunca soube onde é. Uma hora fui penetrada pelas duas serpentes: Adão rasgou-me o rabo e a serpente lambeu o meu útero. Então gozei. E é só disso que lembro. Depois me jogaram pragas, me pintaram em telas, me esculpiram, me cuspiram, me lascaram. Meu nome ecoa em igrejas e confins. Meu nome está escrito em bíblias e letreiros de motéis e eu, nunca, jamais imaginei que uma orgia, a três, fizesse de mim um sucesso.

Filha de Sade

ilustração de Nathália C. Forte para os "Contos Sujinhos, Poeminhas Sujos"
ilustração do Átila para os "Contos Sujinhos, Poeminhas Sujos"

APRESENTAÇÃO- ENTRADA

“Busco uma freira, que me desemtupa
A via, que o desuso às vezes tapa...”

            Os versos acima são de Gregório de Matos, o poeta que já no século XVII usava o pincel ou a pena – sendo que esta é mole – a serviço da putaria. O seu alvo principal foi a igreja católica, e ficou para a história os escândalos envolvendo os conventos da cidade.  Sua poesia é um exemplo de como o erotismo tem uma longa tradição na literatura brasileira.  Mas foi certamente no século XIX que a literatura erótica e pornográfica teve significativa ereção. Os naturalistas costumavam pintar cenas pornográficas intentando escandalizar o burguês moralista e hipócrita. Adolfo Caminha, escritor cearense, conseguiu atingir esse objetivo com seu licencioso livro O Bom Crioulo, que mostra a sedução de um negão grande e forte sobre um grumete branco, fraco e indefeso.
            Outro momento ejaculatório da literatura erótica brasileira foi a década de 1970, com a literatura marginal. Interessados em questionar tabus da sociedade e das belas letras, os escritores marginais abriram a braguilha e mostraram o pau, os pentelhos, a boceta, os grandes e pequenos lábios;  baixaram as calças e revelaram a bunda, o cu, as pregas, o fundo mais escuro e arreganhado. Temos Hilda Hilst como representante de uma época que fodeu com certa tradição careta e pudica de nossa literatura.
            Ademais, é difícil encontrar um escritor que não tenha em algum momento expressado em palavras suas perversidadezinhas. Virando de frente e de bruço, se revelam muitos desejos, insinuações, sacanagem figurada, senão uma pornografia aberta e escancarada. Mesmo escritores que nos pareciam mais recatados, como um Drummond e um Bandeira, escreveram suas licenciosidades, algumas guardadas no fundo do Baú, outras vislumbradas nas entrepernas de suas fricções.
            Portanto, quando a Revista Pindaíba publica estes contos sujinhos/poeminhas sujos, é no sentido de continuar toda essa atemporal sacanagem, sem tirar de dentro, sabendo que ainda hoje a literatura pode contribuir para a instigação de nossos desejos, com suas metáforas, metonímias, hipérbolas e outras figuras de linguaragem, nesses tempos de internet, em que a pornografia tornou-se algo corriqueiro e banal.
            Temos, portanto, aí, trinta e quatro escritores, entre reconhecidos e anônimos, alguns com nomes, outros com pseudônimos, que imaginaram – se é que não viveram – um bocado de putaria e deixaram na bandeja esses continhos e poeminhas. Uma verdadeira boca livre, para que os leitores façam com essas delícias o que quiserem: comer, beber, se esfregar, se masturbar, meter na orelha ou no cu. Sirvam-se.

Manoel Carlos 
o aprendiz de bruxo

nuno gonçalves

para todos os aprendizes de bruxo

seguindo uma centopéia bailarina e um fotógrafo em busca de um nascedouro perdido
pressinto o hálito nostálgico de uma partitura não codificada
enquanto uma barata se esforça por mover o grão que modificará o mundo
e um velho hippie segue cantando os sonhos antigos nas calçadas do centro histórico
dessa monstruosa cidade
onde um dia se encontraram os cavalos do sul e do norte
onde um dia passeou o aprendiz de bruxo
                          com suas mandrágoras e seus caleidoscópios
onde sentaram falaram e comeram os homens e as mulheres e as crianças de Chiapas
entre cervejas e tequilas e esperanças vãs e gastas
sigo espremendo os olhos vazios deste zócalo imenso onde a bandeira tremula
como as mãos da puta que à noite rondará esses mesmos hemisférios
em busca de um pouco de grana
em busca da rigidez de uma pica
em busca de um tanto de droga
ao meu lado um jovem de óculos me grita
sou negro sou livre sou lindo
e as pessoas passam como zumbis em direção à boca do metrô
onde repousaram seus silêncios e suas inércias
como se a revolução nunca tivesse ocorrido
como se não houvesse nenhuma promessa do outro lado do muro
como se os ventos do mar não tivessem forças para mover o barco
a tarde se despede como uma mosca enterrada num circo
enquanto baila a centopéia no picadeiro
e segue o fotógrafo a sua busca ousada
escrevo uma espiral nos seios de minha amada
como uma tentativa de se aproximar dos bicos
como uma ameaça de se entregar aos riscos
como uma imensa baleia atravessando os oceanos em busca de sua cria
no céu se abre uma fenda por onde escapam os gritos dos mártires
suas lágrimas de pulque caem em minha língua como bálsamo
e seu efeito gravita em meu corpo como as gotas lisérgicas do ácido
a poesia nos chega como uma ressaca sagrada

ilustração de Felipe Arruda para o poema "O Aprendiz de Bruxo"

O APRENDIZ DE BRUXO (continuação)


palimpsestos disformes e heráldicas rasgadas
o silêncio deforma a palavra
e a erva devora as pedras do claustro
o monge exibe suas pérolas, o caminho de sua aprendizagem
caminhando sobre os lagos arcaicos de Tenochtitlán
soterrados pela larva dos vulcões e pela fúria dos conquistadores
comendo a chuva com as mãos
enrolando tacos com a fome
escrevendo versos com amor
revivendo paixões renascidas nas feridas dos descalços pés do velho chico
atravessando as nuvens onde são geradas as sementes
                                      onde brotam as angústias e os desejos
                                      onde medita o Buda espreitando o asfalto
por todos os lados sinto o aroma deixado pelo aprendiz de bruxo
escorregando pelos azulejos da casa da condessa
pendurado como um morcego no palácio das artes belas
farejando os mosquitos que vêem com o verão
meu corpo uiva à lua cheia e grávida de amor
meu canto singra a obscura demência travestida desses palhaços com olhos de estrelas
minha vida se refaz em cada raio de sol que me chega
em cada ave que arriba em direção às áfricas de nossa terra
meu sangue ferve quando penso que respiro o mesmo ar
que um dia respiraram os profetas
num passe de mágica a centopéia se transforma em borboleta
e a borboleta se metamorfoseia em candelabro
e o aprendiz em bruxo sábio e minha boca em esplêndido canteiro de horta
onde florescem os amores e se dissipam os segredos os medos e os terrores
meus cabelos viram serpentes que sopram flautas mágicas
eu e minha princesa varremos o mundo e seguimos nossos destinos
lambendo o fogo fátuo e recusando os mitos pré-fabricados
parindo rosas no deserto onde semearam pólvora
rastreando a beleza que os bruxos deixaram pelo caminho
comendo salpicão de frango como se todos os dias fossem domingos
                                               como se todas as cidades fossem parques & jardins
                             como se insultos & más-palavras fossem nossos melhores aliados
a guerra segue sem trégua e a história não passa de uma estúpida contorcionista
rodopiando no mesmo lugar
o retrato de minha vó nos espia da estante entre os livros usados
seu sorriso apunhala os sebos da calle donceles
e de sua boca escapa um sertão gigantesco onde pululam maravilhosos alebrijes
e os animais fantásticos daquele outro aprendiz de bruxo
com seu escancarado sorriso de dentes de ouro
exalando pirarucu e cachaça
santidade santidade santidade
destroçando os véus egípcios e exibindo a pureza da gazela
o harém onde as abelhas tecem o mel

ilustração de Felipe Arruda para o poema "O Arendiz de Bruxo"

O APRENDIZ DE BRUXO (continuação)



e a barata que insiste em mover o grão que transformará o mundo
que extirpará o mal
que eliminará o pecado
mais ao sul da cidade um poeta semeia sua própria paisagem com champagne & vertigens
mais ao norte os operários sangram sobre as máquinas
e os soldados se matam numa batalha sem nexo
recordo minha primeira Olivetti
e todos os sonhos que datilografei um dia
recordo as feras que passeavam por minha primeira escola
nossas ingênuas sessões de espiritismo
a ignorância das freiras perseguindo o delírio das fadas e das onças ressuscitadas
mergulhado no grande armazém de secos & molhados da memória
revivo o êxtase daquele aprendiz de bruxo
que segue resistindo ao fardo da insana maquinaria
quem rascunha nossas almas?
quem restituirá ao corpo sua medida exata?
onde dormirá o corvo azul da liberdade?
o jovem de óculos grita novamente
sou negro sou livre sou lindo
um índio esmola na esquina
girando a manivela do realejo
girando o cosmos e o útero apodrecido da cidade
girando a esquisita imaginação dos turistas
fisgando minhas vísceras imersas no álcool dessas ruas infestadas de policias
                                                                                                        de militares sem abrigo
                                                                                                      de ossos sem amor
o fotógrafo ensaia um click o palhaço ensaia um número o poeta ensaia um transe
os cavaleiros de Oxossi celebram com os sobreviventes do vodu
empresas petrolíferas seguem destruindo a terra
em algum lugar dessa muralha
o aprendiz de bruxo ainda luta contra as forças demoníacas
a cidadela está sitiada os anjos entoam novos salmos os poetas mergulham na fumaça
o mistério permanece o mesmo o verso permanece incansável a noite permanece sagrada
meu coração de náufrago segue seu próprio aprendizado
experimentando todos os utensílios disponíveis na nave
como aquele velho almirante louco que desgraçadamente abandonou a profissão do mar
como aquele maníaco pirotécnico que por acaso aprendeu javanês
como aquele insensato samurai neo-pitagórico suicidado na solidão do álcool
como aquele dragão erótico e furioso das ribeiras premonitórias do ceará
como meu avô afundando no sono eterno dos que habitam a região dos mortos 
ouço vozes sou assaltado por perfumes entrego-me às alucinações
com minhas mandrágoras e caleidoscópios, com minhas clepsidras de vidro
com meus escapulários heréticos, sigo minha irreverente travessia:
a jornada de um órfão enfeitiçado em seu tortuoso aprendizado de bruxaria... 

nuno g.
quarta-feira, 20 de abril de 2011 – 15:15.


ilustração de Felipe Arruda para o poema "O Aprendiz de Bruxo"
Queridos comparsas, Depois de muita labuta(ndo), lançamos a terceira edição da nossa revistinha no começo de março, em uma festa memorável no antigo Teatro Bar Chico Anysio , a qual só foi possível devido à fé, força, envolvimento e paixão de dezenas de amigos e amigos dos amigos. Mais uma vez nossos sinceros agradecimentos. Nos próximos dias vamos postar por completo uma versão PDF. Por enquanto, eis aí alguns fragmentos da bichinha. Nesta edição contamos com 46 colaboradores, entre autores, quadrinistas e ilustradores. São 124 páginas divididas em 33 contos e poemas eróticos de autores cearenses e de diversos cantões do país (Contos sujinhos e Poeminhas sujos); 2 histórias em quadrinhos de autoria de André Dias e Vitor Batista; a matéria, carro principal, que abre nossas páginas sobre o saudoso Espaço Cultural Cidadão do Mundo e a cena musical de Fortaleza na segunda metade da década de 1990, escrita por André Alcman, idealizador do Espaço; um poema fantástico escrito por Nuno Gonçalves e ilustrado por Felipe Arruda; uma entrevista com Falves Silva, artista visual potiguar e militante entusiasta do Poema/Processo, movimento que propôs uma nova maneira de ver e criar poesia em meados da década de 1960; além do já clássico TÔ PUTO, ressaltando a parceria firmada com o Espaço Casa, merecendo também uma apresentação de destaque. PINDAÍBA tem capa colorida e miolo P&B, nas seguintes dimensões: 21cm X 26cm. Colaboradores desta edição: André Alcman, Dinéffe Punk, Carlos Jorge, Átila, Sr. e Srta. P., Carlos Nascimento, Júlia Manta, Academia dos Poeteiros, George Alexandre, Airton Lima, Wellington Oliveira, Cláudio Portela,Amanay Parangaba, Edward, Ana Cristina Cesar, Tadeu Magela Pietiê, Lisa Lorena, Pedro Salgueiro, Mardônio França, Áuria Rafael, Ewerton,Maria Rosa, ElEscriba do Benfica, Natália Soares, Fábio Miranda, Felipe Neto, Wolf Escarlate, Gleidson Vieira, Makako Cientista, Senhor G., Nathália C. Forte, Filha de Sade, Léo Mackellene, Ana Cristina de Moraes, Rui Carlo Ponte Moura, Guilherme Linhares, Sávia Cardoso, Augusto Azevedo, Eugênia Siebra, Zé da Campina, Cellina Muniz, O Poeta de Meia-Tigela, Jader, Nuno Gonçalves, Felipe Arruda, Falves Silva, Vitor Batista e Marcelo Bittencourt. Alguns locais de venda: Bar do Moe, Springfield. Siri Cascudo, Atol de Bikini Livraria Lua Nova, Av. 13 de Maio 2861, Benfica. Livraria feira do Livro, Rua Benjamim Carneiro Girão 87, Montese. Banca do Agripino, Praça João Gentil, Av. 13 de Maio, Benfica. Banca O Sobral, Praça do Carmo, Centro. Banca do Centro de Humanidades UFC, Av. da Universidade, Benfica. Videolocadora Cinéfilo, esquina da Av.13 de Maio com Rua Marechal Deodoro, Benfica. Livraria Smile, Shopping Benfica e Rua Alm. Maximiano Fonseca 1395, Conjunto Luciano Cavalcante. Livraria Cultural, Av. 13 de Maio 2374, Benfica. Ou então procurar os editores nos bares do Benfica, ou ainda através do face ou pelo email diasnoc@yahoo.com.br